São Paulo, 31 de maio de 1929.
Memórias pósthumas!... Título curioso, estranhável mesmo. Morrer para depois escrever memórias!... Tal cousa só podia nascer mesmo da imaginação de M. de Assis.
O seu Braz Cubas, embora tendo iniciado a nova vida que começava atraz da lagem do seu túmulo, não preferiu escrever a memória da sua vida entre os espíritos impalpáveis. Não, preferiu antes rememorar as cousas e factos deste mundo real. E não foi mau o gosto seu. Louvo-lhe a escolha. Fez o que todos nós fazemos com mais ou menos tempo. Somente divergiu um pouco por ter escrito as suas memórias. Outros, muitos outros, não vão tão adiante. Limitam-se somente a ter memórias.
Não as deixam transparecer nítidas sobre o papel branco. Mas têm-nas gravadas no coração. E ali, não raro, uma página mais viva se salienta, um sucesso que para outros seria banal, uma data passada para muitos seu silêncio se evidencia com rigor e é recordada com insistência.
Por ora, só uma data nos interessa. Bem sabes qual seja: o último dia do quinto mez do anno, o último dia do mez de maio. É uma rosa a mais que se abre com a innocente intenção de minorar a insipidez do universo entrante.
Que se repita por muitas vezes e seja também o motivo de saudosas memórias.
do Mario.
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