quinta-feira, 18 de junho de 2020

Regresso à Fé -- 2017 --


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      Mencionarei aqui pessoas específicas de meios específicos, o meu propósito foi o de contextualizar e sintetizar os elementos atuantes no processo de minha conversão. Meu nome é Vitor Marcolin, tenho 23 anos e sou um ex-Calvinista. Compartilho, com alegria, esse pequeno relato de minha conversão à Fé Católica, na esperança de poder ajudar a outros que, assim como eu, buscam por orientação, ou, pelo menos, por uma pista de como proceder em face da dúvida e dos temores que uma possível "crisis" (do grego, mudança) possa despertar em suas consciências. Aqui está, na verdade, o relato de meu regresso, pois recebi o Sacramento do Batismo quando criança.  


    Nasci numa família católica conversa ao protestantismo. Minha família seguia os preceitos da Igreja sem fervor ou devoção. Como não poderia deixar de ser, por falta de maturidade e juízo, os acompanhei, claro, porque não tinha escolha. Cresci num típico lar protestante, para ser preciso, numa confusa dissidência protestante. Logo que me vi na posse de algum juízo, um pouco mais amadurecido, guiado por algum senso de realidade e profundamente incomodado com as incoerências do meio protestante, decidi buscar por algo de valor que eu não tinha: humildade. 


     Na medida de minha maturação e progresso nos estudos que decidi empreender por conta própria, comecei a desenvolver uma percepção real de minha própria conduta enquanto cristão e deste fato que é o Cristianismo. Essa percepção me indicou que, enquanto membro de uma dissidência protestante, cercado por inúmeras contradições, eu estava muito distante da realidade. Minha família, embora, evidentemente, não aprovasse que eu, em função dos estudos, começasse, pouco a pouco, a me afastar de nossa comunidade, não me proibiu de continuar em minha busca.  


    A comunidade onde eu estava era permeada por rupturas, hiatos, divergências, confusões, divisões, orgulho e, porque eu buscava por um senso de ordem, essa situação se tornou absolutamente insuportável. Depois de algum tempo, consegui dar nome à minha busca: O tal senso de ordem, na verdade, era simplesmente uma busca pela conexão com a realidade histórica do cristianismo, no sentido de que deveria existir uma igreja que, durante todo o transcurso do tempo desde o anúncio das Boas-Novas do Evangelho, fosse a expressão mesma deste Evangelho cristalizado na realidade, como uma instituição. Não sei se me faço entender, mas depois de um tempo, descobri que a comunidade onde eu estava, de modo algum poderia ser essa igreja, exatamente pela ausência do senso histórico e por outros motivos mais que demonstrarei mais adiante. Foi então que voltei minha atenção à Igreja e nela encontrei tudo o que estava procurando. De início, percebi o senso de continuidade nela, da segurança em saber que houve e há uma legítima e eficiente manutenção da mensagem das Boas-Novas do Evangelho por dois milênios. Eu já era um católico, só que ainda não sabia. 


    Eu sabia que o Cristianismo não era, claro, um mero conjunto de prescrições morais com o único propósito de censurar o mínimo deslize de comportamento. No entanto, percebi que, entre as pessoas da minha comunidade com quem eu frequentemente conversava a respeito, a ideia, a imagem da Igreja Católica era, justamente, aquela da instituição cruel que, em nome de Deus, cerceava as consciências através de uma verdadeira perseguição psicológica e, claro, não só psicológica, mas também que lançava à fogueira as multidões de hereges.   


    Estudando, descobri o trabalho do professor Olavo de Carvalho. Talvez eu não tenha ainda maturidade para expressar minha gratidão em conhecer seus esforços. Afirmo que foi através de seus livros, aulas, explanações e indicações que fui despertado para o regresso à Fé Católica. Primeiro, por um sentido filosófico, concreto, de significação real, de valor de civilização. A Igreja Católica é o fundamento do nosso mundo Ocidental, de nossa sociedade, de nossa civilização. Ela é a guardiã de todos esses princípios e valores que possibilitam nossa existência na sociedade enquanto criaturas carentes de redenção. Segundo, pelo transcendente. Em uma das indicações do professor Olavo, fui apresentado a Santo Tomás de Aquino.  


    Quando afirmo ainda não poder expressar minha gratidão ao professor Olavo é exatamente por isso. Ler Santo Tomás é como conhecer um mundo novo e perene: Fica-se extasiado com a sua lucidez. É claro que ainda não concluí meus estudos sobre o Doutor Angélico, estou longe disto. Mas, pelo que descobri até o presente momento, não há sequer penumbra de semelhança com ele no meio protestante. Nem poderia haver. O maravilhamento de minha conversão pode ser ilustrado pelo maravilhamento de um rapaz que passou a vida inteira nadando no pequeno lago de um sítio no interior e, de viagem ao litoral, descobre finalmente o mar.   


     Quando conheci o trabalho do professor Olavo, conheci também uma multidão de outros pensadores que, certamente, levarei muito tempo para estudá-los. Através da internet, conheci a atuação do Padre Paulo Ricardo e comecei a estudar a história da Igreja. É impressionante o quanto a narrativa protestante é falsificada. Na verdade, empregar o termo "narrativa" para o discurso de formação do meio protestante é incorreto, porque não existe uma narrativa unificada, o que há são narrativas diversas, diferentes, divergentes e, frequentemente, conflituosas entre si. O indivíduo da denominação X tem esta interpretação das Sagradas Escrituras e o sujeito da denominação Y tem, por seu turno, aquela outra. O conflito acontece porque as interpretações da mesma realidade são divergentes, mas não é uma divergência construtiva, no sentido de que tal aspecto da realidade não capturado por esta denominação pôde sê-lo por outra, de maneira que, ao cabo da somatória, o resultado seja uma visão completa da realidade. Não. O que existe é um estado de conflito permanente que leva o crente a duas saídas: Primeiro, ele admite que sua interpretação é, de fato, a única aceitável ou, o que é mais comum e eu experimentei isso na minha comunidade, o sujeito cai na falácia do relativismo e passa a dizer que, no fim, o modo como as pessoas interpretam as Sagradas Escrituras não é tão importante assim. A partir desse ponto, continuar como protestante tornou-se insustentável. Tive um desejo ardente de conhecer uma comunidade católica. 


     Comparar a barafunda do falatório protestante com o magistério da Igreja Católica é como comparar as paredes desprovidas de reboco dos casebres de vila nhocuné com a suntuosidade dos arcos bem acabados das catedrais góticas. Li o relato de conversão do Fábio Salgado de Carvalho, um ex-Batista também converso à Fé Católica. Ele me inspirou. Com competência, dedicação e compromisso com a verdade, o Fábio está compilando relatos de protestantes convertidos ao Catolicismo. Ainda não encontrei alguém mais competente do que ele no cuidado com que se empenha para compilar e divulgar uma preciosa bibliografia de testemunhos, de relatos de conversões e contundentes explanações do pensamento de homens eruditos que muito têm a dizer sobre a Tradição Católica e a narrativa protestante. É certo que farei bom uso desse valioso material. 


     No dia 31 de maio de 2017, fui à estreia do filme do Josias Teófilo sobre o professor Olavo, O Jardim das Aflições. Foi nessa ocasião que ouvi o anúncio do início do III Ciclo de Palestras Santa Generosa, organizadas pelo professor Rodrigo Gurgel. O ciclo iniciou-se no dia seguinte, 1º de junho. Finalmente pude conhecer uma comunidade católica. Das doze palestras do ciclo, a que mais me surpreendeu foi a do dia 29 de junho: Mariologia, a urgência da mensagem de Fátima para o mundo, ministrada pelo Mateus de Castro – conhecido como “O Papista”. A partir desta noite, fui despertado para uma nova realidade, passei a perceber que havia uma conexão real e profunda entre a mensagem do Evangelho, a Tradição da Igreja e a realidade histórica e transcendente. De fato, foi memorável. A paróquia de Santa Generosa fica no metrô Paraíso, no bairro de Vila Mariana, em São Paulo. Tenho uma foto desta paróquia em uma moldura.  


      O ciclo se encerrou no dia 24 de agosto com Flávio Morgestern. Nesse mesmo dia conversei com o Sr. Décio, – um paroquiano de Santa Generosa -, disse a ele que eu estava me encaminhando à Fé Católica e que gostaria muito de participar da Missa, para conhecer. O Sr. Décio foi muito atencioso e prestativo, sou grato por hoje tê-lo como padrinho. Ele me disse que o Padre Paulo Ricardo estaria celebrando Missa no próximo Domingo. Certamente eu não perderia essa oportunidade. Na manhã de Domingo, 27 de agosto, assisti à Santa Missa – mas não comunguei -, ganhei um terço do padrinho Décio que fora abençoado pelo Padre Paulo. Também recebi oração. Foi muito significativo, marcante mesmo. 


     O padrinho Décio me apresentou à Dona Margarida – também uma paroquiana de Santa Generosa – e, finalmente, ingressei na preparação para receber o Sacramento da Confirmação. Sou imensamente grato à Dona Margarida pela sua paciência, caridade, atenção e afetuosidade. Manifesto gratidão também ao professor Rodrigo Gurgel pelo salutar Ciclo de Palestras, conheci excelentes amigos através desta série de encontros.  


     A Paróquia de Santa Generosa, através da atuação do quase centenário Padre José, e agora do Padre Cássio, possui uma história linda e muito significativa em São Paulo que, certamente, terei o mais completo prazer em conhecer. Honro-me por, agora, fazer parte dela. Rezo para que, com a ajuda de Deus, eu prossiga com caridade e empenho no Caminho da Fé e continue a buscar o conhecimento necessário para apresentar, sempre que for preciso, as razões desta mesma Fé. Ad Maiorem Dei Gloriam. 


    * Fotografia da Paróquia de Santa Generosa emoldurada. 

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