Caminhar por São Paulo no dia de Natal não é só um convite para o estranhamento da quebra do ritmo frenético da cidade, é também um convite para uma observação mais apurada dos efeitos da passagem do tempo. O que é o Natal senão um marco permanente no transcurso do tempo? E aqui está um registro não planejado, feito por acaso, da minha caminhada desta manhã. A fotografia acima, que está em domínio público, fora batida por Werner Haberkorn nos anos de 1940. O registro é do prédio do Instituto Biológico, que teve sua construção concluída, em estilo art-decó, em 1945. Haberkorn fora engenheiro, fotógrafo e empresário alemão radicado no Brasil nos anos de 1930. A Fotolabor, empresa pioneira na fabricação e comercialização de cartões-postais no Brasil, fora um empreendimento idealizado e consolidado por ele em 1940. O repertório fotográfico do estúdio de Werner Haberkorn é um verdadeiro tesouro da memória paulistana, porque contém registros das diversas transformações sofridas pela cidade ao longo das décadas de 1940 e 1950. Deixei o local do meu estágio, nas proximidades do Instituto, com a sensação da evidente anormalidade: era a calmaria, o silêncio incomum só violado pelo canto dos pássaros que se amontoavam nas árvores da Av. Dr. Dante Pazzanese. Antes de começar a escalar a Conselheiro Rodrigues Alves para acessar o metrô, porém, lembrei do velho prédio do Instituto e das muitas ocasiões em que desejei fotografá-lo, mas, intimidado pelo intenso movimento do local, pelas pessoas, pelos carros, pelas motocicletas nunca tive coragem. A quietude desta manhã de Natal fora o convite irrecusável para bater a foto abaixo.
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