domingo, 25 de outubro de 2020
Resenha do livro "Um Milagre em Paraisópolis", de Fábio Gonçalves
domingo, 11 de outubro de 2020
Resposta do professor Olavo à minha pergunta na aula em direto do COF
Ontem, 10 de outubro de 2020, durante a aula 537 do Curso Online de Filosofia, o professor Olavo gentilmente respondeu à minha pergunta. Segue a transcrição:
"Vitor Marcolin: 'Professor, o que o senhor foi fazer na Romênia e qual a influência daquele país para a sua filosofia?'. Bom, aconteceu o seguinte: em... não lembro em que ano que foi (olha provavelmente para a dona Roxane e ela diz ao fundo: 1999) 1999 tinha uns camaradas querendo me matar, já estavam me seguindo até à porta de casa. E então o embaixador na Romênia, que era o Jerônimo Moscardo, ficou sabendo disso através, acho, de um amigo em comum que, aliás, era um Coronel do Exército. E mandou me convidar, me ofereceu um emprego no Instituto Brasil-Romênia. Eu falei 'uai!, não custa nada a gente ir pra lá, então nós fomos'. O emprego era uma chatice e eu me saí muito mal nele, porque tinha que ajudar as pessoas a vender produtos brasileiros lá e ia camarada vender novela da Globo. E daí que eu ia aconselhar o que para os romenos? Não compra essa porcaria, por favor! (risadas). Então, eu não era bem o funcionário ideal para ocupar aquele lugar. Mas, de qualquer modo, o período em que nós passamos lá foi muito proveitoso, pela primeira vez eu tive a ideia do que era um povo realmente culto. Na Romênia todo mundo fala três ou quatro línguas.
O mendigo vem até você pedir esmola, se você não o entende, ele fala em francês, você não entende, ele fala em inglês, você não entende, ele fala em alemão e aí, se você ainda não entender, ele fala em russo! É um povo muito culto, mas ao mesmo tempo é um país que foi destruído pelo regime comunista. Você vê ali que no centro de Bucareste, você tinha que o sujeito derrubava igrejas do século IX para construir no lugar edifícios do BNH. Quer dizer, o sujeito fez uma monstruosidade, não é? E também construiu para ele o maior prédio administrativo do mundo e, quando aquilo ficou pronto, a mulher olhou e disse: 'Eu quero um igual pra mim!' e ele então começou a construir um igual! É um negócio assim (coloca as mãos na cabeça)... é coisa de petista, você está entendendo? Só petista faz um negócio desses. O sujeito devastou a Romênia. No lugar onde a gente morava, o prédio era da nomenclatura dos funcionários, a parede era dessa largura assim (demonstra com os braços) e eu ia visitar os prédios dos operários, a parede era assim (demonstra com os dedos). Uma beleza, né? Também não podia ter aquecimento individual, o aquecimento tinha que ser para a cidade inteira. O aquecimento era tão bom que o calor não podia passar de oito graus centígrados no inverno... a devastação. Daí você entende... eu entendi por que o Ceauşescu (Chauchesku) tinha feito um prédio especial para exilados brasileiros. Não ficou um (risos), eles passaram um tempinho lá e depois foram embora para Paris. E assim por diante.
Quer dizer, você conhecendo o resultado, os efeitos do Comunismo se prolongando para muito além da duração do regime... eles criaram problemas insolúveis que o melhor governo do mundo não conseguiria resolver. Né, fazer o quê? Daí também depois eu fui para a Polônia e, de certo modo era pior ainda, porque a Polônia, quando foi invadida pelos alemães por um lado e pelos russos pelo outro, os caras acabaram com Varsóvia, a cidade ficou no chão, não tinha mais prédios. E daí eles reconstruíram tudo na base do BNH soviético. Quer dizer, é uma cidade feia que dói. E os caras lá me diziam: 'Sabe quem manda aqui hoje? São os netos dos comunistas.' Quer dizer, é um negócio dinástico, hã?! É terrível... mas também foi muito bom pra mim visitar o Palácio Brankovank (?) onde eles usavam o jardim do palácio como depósito de estátuas das celebridades comunistas. Tinha lá Lênin, Stálin, Chauchesku todo mundo caído no chão, cheio de sujeira em cima (risos). Foi muito bom ver isso pelo menos, hã?! Saber que essas glórias não duram para sempre".
terça-feira, 6 de outubro de 2020
Novo achado
Nesta página, o antigo dono do livro (presumo que seja um adolescente português ou francês que viveu, obviamente, entre o fin de siècle XIX e início do século XX), inscreve o seu nome, René Ehiollien, acompanhado de um desenho e a referência ao mês de fevereiro de 1901. Tudo muito bem acabado a bico de pena.
E por fim, o senhor do livro deixa para a posteridade as datas do início e do término de sua leitura: "Terminei a leitura deste livro agora, às 11hs mais 20min da noite. Domingo, 4 de Dezembro de 1910." E completa mais uma vez como se seu diário estivesse distante ou, mais do que isso, quisesse fazer de um fato ordinário do seu cotidiano, parte da sua leitura, uma extensão desta: "Eu e Sylvinha fomos, durante o dia, à Comédia Francesa. René... Paris."
segunda-feira, 5 de outubro de 2020
Soneto de Natal -- Olavo de Carvalho
domingo, 4 de outubro de 2020
Mas era feita com muito esmero
sexta-feira, 2 de outubro de 2020
A tragicomédia dos pitacos
Ele é um jovem escritor, a quem deve pedir conselhos? Primeiro, aos grandes escritores, àqueles que elevaram o idioma aos píncaros da expressão da condição humana. Aos grandes mestres. Ele deve imitá-los, imitar os vários estilos diferentes. Com isso, o aspirante formará o seu próprio estilo, com este diálogo de vários estilos diante de si. Depois, o jovem escritor deve procurar bons escritores que lhe sejam contemporâneos, que lapidaram os seus estilos também através da assimilação dos grandes mestres. Um rapaz bondoso, mas ingênuo, que desejava muito tornar-se escritor, um escritor lido, comentado, referenciado, em suma, um escritor de sucesso, caiu na besteira de revelar esse seu sonho íntimo a um colega de trabalho, para quem pediu conselhos. O homem, que não escrevia e tampouco lia, começou por dizer, com ares de erudição, as mais disparatadas invencionices, com o intento de desiludir o aspirante do seu sonho. E, como a burrice anda de braços entrelaçados com a maldade, não eram conselhos que o homem dava, eram pitacos.
quinta-feira, 1 de outubro de 2020
Resenha de "Crime e Castigo" -- Dostoiévski
Muito já se escreveu sobre a vida e a obra do escritor russo e, numa busca rápida pela internet, encontra-se uma quantidade abundante de resenhas dos seus romances. Este em especial, o do título desta resenha, é um dos principais objetos de interesse das análises de livros em blogs, sites e espaços de discussão sobre literatura nas redes sociais. Para dar a minha pobre contribuição, pobre, porque fui um leitor inconstante, tendo que dividir a atenção com leituras paralelas e, pior, nem sempre lendo no papel, mas na tela do computador ou do celular, decidi registrar essas reflexões. Eu não conhecia Dostoiévski antes de ler, aos 26 anos, seu romance, "Crime e Castigo". Antes, claro, ouvira falar de sua importância para a literatura; de seu pioneirismo em registrar, em palavras, as angústias da condição humana. Mas, só agora, depois de finalmente ler parte desse trabalho, descobri, ou pelo menos tive um vislumbre, da sua real importância.
No fundo, o homem é sempre o mesmo. Isso significa dizer que ele experimenta o sofrimento sempre da mesma forma: a tristeza, a solidão, o medo, a inveja, a angústia... Esses padecimentos da alma não evoluíram através de causas naturais, de causas biológicas como as espécies de Darwin; não surgiram através de meros processos físico-químicos entre os neurônios do cérebro. Não. O homem é sempre o mesmo. A coragem e a rebeldia de Ninrode (antigo herói da época pós-diluviana) não foram diferentes das de Napoleão; a contrição do rei David perante a Arca da Aliança não fora diferente da de Dom Afonso Henriques perante o vocativo da missão evangélica da nação que nascia sob o seu comando; as dores da vida e da morte do próprio Verbo Encarnado podem ser assimiladas por qualquer indivíduo em qualquer época. E aqui está o fascínio da literatura, porque ela é a representação da própria realidade: a possibilidade de exprimir os sentimentos do homem em todas as épocas e em todas as circunstâncias possíveis e imagináveis. Isso só poderia acontecer se o homem não mudasse; se, no seu íntimo compreendesse integralmente o que é sofrer.
Como eu disse no início, há incontáveis análises de "Crime e Castigo" pela internet afora. Cada uma apresenta um ou vários ângulos de perspectiva sobre a narrativa; cada resenha, por mais simplória, traz em si uma interpretação mais ou menos abrangente da obra. Limitei o meu esforço para o tema que, no progresso da leitura, melhor prendeu a minha atenção, impressionando-me profundamente: o sofrimento. Em "Crime e Castigo" todos sofrem. E sofre também o leitor. Não pude evitar: quando cheguei à cena do crime, tentei resistir, desviei os olhos da página por alguns momentos, franzi os sobrolhos, pressionei as mãos contra os olhos mas, tomando coragem, tornei à leitura. É assim que se deve ler os romances, sobretudo as grandes obras. Não com uma afetação meramente estética das emoções, mas a partir de um entendimento mais profundo do ato de ler: suspension of disbelief, suspensão da dúvida. Essa voluntária e momentânea suspensão da descrença é a forma eficiente de viver o romance, de experienciá-lo.
Rodion Românovitch Raskólnikov, o protagonista, é um estudante miserável. Decide abandonar os estudos, porque não mais pode se manter com o mirrado dinheiro que sua mãe, Pulkéria Alieksandrovna e sua irmã, Dúnia, com esforço heróico, enviam-lhe. Tudo o que lhe é possível, com os recursos de que dispõe, é honrar por tempo indeterminado as despesas da espelunca onde vive, em algum lugar insalubre de São Petersburgo. Esta é a situação inicial a partir da qual os dilemas morais serão apresentados ao jovem estudante pobre e desesperado. Dostoiévski expõe o aflito Ródia (diminutivo do seu primeiro nome) ao mais temível e perturbador dilema da sua vida: se Deus não existe, então tudo é permitido. Esse é o pano de fundo de toda a narrativa. Cada borborigmo de estômago, cada dor de cabeça, cada vertigem que o leva ao chão, cada dor lancinante que o deixa prostrado no esfarrapado sofá do cubículo imundo onde vive faz reverberar a questão dentro de si. Até que ele toma o caminho que o conduzirá ao castigo; até que ele se decide, portanto, pela experiência da negação. Ródia, diz "não" a Deus.
A história, publicada há 154 anos, é de todos conhecida. E mais, é também reconhecida. Nela está presente o drama da redenção. É, portanto, uma obra maior, do tipo que cativa os leitores para sempre. Há mais dois elementos do romance que atraíram a minha atenção: a personagem de Sônia Marmieládovna, a prostituta debutante e a família que, através da sua atividade indigna, ajuda a sustentar. E aqui há outro dos dilemas de Dostoiévski. Sônia é a personificação do amor. Não no sentido sexual, vulgar que seria próprio da sua atividade, mas no sentido do amor sacrificial; Sônia ama a família e acha que por ela todos os sacrifícios valem a pena. O pai é um bêbado contumaz, a mãe é tísica, a tuberculose a faz tingir de vermelho o lenço sempre que espirra, os irmãos, todos, famintos e participantes desta vida moribunda. Sônia não vê outra alternativa, os seus morrem de fome.
Toda aquela vergonha só a tocava de forma maquinal, pois a perversão não penetrava até sua alma. Raskólnikov via isso muito claramente. A moça conduziu o criminoso à redenção, ela o libertou. Há uma cena marcante, na qual Dostoiévski descreve ambos, o assassino, Raskólnikov e a prostituta, Sônia, sentados à roda d'uma mesinha no cubículo imundo desta. Eles leem o Evangelho segundo São João, a passagem na qual é relatada a ressurreição de Lázaro. Apesar de Ródia, no trecho, ainda expressar certa resistência, ambos comungam no cálice da esperança. Sentem que suas vidas têm um propósito maior, ainda que incomunicável, que têm beleza, ainda que violentada. Sônia cativou o coração de Raskólnikov e ele a amou.
"O sofrimento acompanha sempre uma inteligência elevada e um coração profundo". Fiódor Dostoiévski.
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