
*
Às bem-aventuradas criaturas residentes em outras cidades do Brasil-Pindorama: tirem os pangarés da chuva, São Paulo é uma cidade feia, vocês só vão levar tristeza daqui. O centro que, em tese -- sim, em tese escrita, revista e ampliada --, deveria ser o resguardo da memória, da consciência histórica do povo paulista e paulistano, é uma imundície digna dos círculos mais terríveis dos infernos dantescos. As fachadas dos prédios centenários são vitrines de fealdade: os adereços de estilo, os motivos vegetais, por exemplo, caem, mofados pelo tempo e desprezados pelos moradores que, quando não são pobres imigrantes -- bolivianos, sobretudo, explorados pelas fabriquetas têxteis que proliferam pelas bandas do centro e adjacências -- são especuladores imobiliários que não só tiveram sua sensibilidade para a harmonia das coisas destruída, mas como também o próprio senso de beleza. É o tal do topa tudo por dinheiro. São Paulo caminha a galope para multiplicar as suas ruínas. Eu me pergunto: por que os gajos concorrentes à chefia da Câmara Municipal, quando lançam seus perdigotos nos microfones dos comícios, não citam meia palavra em prol da restauração do centro, dos prédios históricos, dos marcos arquitetônicos altamente simbólicos para a manutenção da memória do povo? Nunca, minha gente, nunca o desejo de foder com tudo fora tão profundo na longa e peculiar história das prefeituras pelo mundo. Nesse sentido, as excelências do Palácio do Anhangabaú equiparam-se somente aos sheriffs de Sodoma e Gomorra. Grandes gestores!
* Tirei estas fotos numa tarde chuvosa quando passei pelo Sebo do Messias, na Praça João Mendes, atrás da Catedral da Sé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário