Estava eu a correr os olhos pelos stories de uma certa moça no Instagram, quando, subitamente, deparo-me com uma imagem que fez os meus instintos do baixo-ventre se atiçarem sobremaneira: tratava-se d'uma foto na qual apetitosos pães de queijo eram soberbamente exibidos. Com a boca cheia d'água fui, no impulso, cumprimentar a prendada autora daquelas obras-primas gastronômicas. Lancei mão d'uma linguagem carregada de empolgação, de contentamento, mas, porca miséria!, não fui bem interpretado. Encantado pela imagem convidativa, eu disse que abandonaria São Paulo e desceria mais para o Sul, a fim de encontrar-me com a donzela que fabricara aqueles benditos pães de queijo. Em tudo isso, claro, estava subentendido, na linguagem hiperbólica, o gracejo inocente que só pretendia expressar a alegria de ver um dos meus pratos diletos tão bem preparados, tão bem acabados na foto. Ledo engano! A moça que, segundo consta nos seus perfis, é versada nas investigações astrológicas da realidade, além de também dominar a Cartomancia e, pasmo-me eu, saber dançar a perigosa dança do ventre, achou que eu a estava cortejando. Eu, que nada sei de Astrologia, que não tenho domínio algum da interpretação da linguagem simbólica do Cosmos, que, tudo o que fiz, foi me deixar embasbacar pelos pães de queijo, estava agora a cortejar o coração d'uma donzela que nunca vi mais gorda ou mais magra na minha frente.
Que coisa esquisita! A astróloga, agora ressabiada, lançou mão do escudo contra um inimigo que nem espada carregava. Disse que seu coração pertencia a um carioca que, assim como eu, prometera descer mais para o Sul para comer-lhe os pães de queijo e consultar-se sobre os detalhes ocultos da sua vida com os poderes místicos da pretendida namorada. E mais, escreveu-me um longo texto no qual narrava o quanto o tal carioca era versado em não sei que arte da guerra, que mataria qualquer um que se lhe atravessasse o caminho entre o Rio e o Paraná -- se não me falha a memória do local da residência da mística do Instagram. Pois bem, eu fiquei mesmo encucado com a situação. Nos últimos meses, comecei a querer saber mais sobre Astrologia -- esse fora o real motivo que me levou a tê-la nas redes sociais --, mas, pensei, se ela assim discerne as figuras de linguagem, como discernirá as figuras do céu? Não! Eu não me consultaria com ela nem se me caísse nas mãos uma carta psicografada com o remetente do próprio Nostradamus recomendando-me os seus serviços. Mas, como o coração tem razões que a própria razão desconhece, ignore-me o leitor, porque sou um fingidor. Eu queria mesmo era ir para o Sul, comer pão de queijo e ser feliz.
* bati esta foto da página 183 da 3º edição do livro O Jardim das Aflições.
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