Me recordo de ter assistido a esse curta quando de seu lançamento. Eu o vi na tevê aberta. Naquela ocasião, quando eu era mais jovem e menos, muito menos sábio, tive o ímpeto de, logo nas cenas iniciais do filme, trocar de canal, porque aquilo me parecia ridículo. Mas, uma coisa surpreendente aconteceu, algo fisgou minha atenção de modo permanente. Lembro que eu estava sozinho em casa, tinha à disposição das minhas reflexões uma casa enorme e anormalmente silenciosa. Esse pequeno filme me arrebatou. Ainda não li Proust, estou, a propósito, esperando a confirmação do site de um sebo de São Paulo para que eu possa retirar no endereço da loja de livros velhos uma edição antiga de "Sodoma e Gomorra". Edição esta que fora traduzida pelo Mário Quintana. Enfim. Eu sei que Marcel Proust foi um grande escritor, portador do raro espírito de investigação da condição humana que a tudo perscruta. Sei disso porque ouvi dos meus mestres, mas ainda não o conheço, não experimentei a sensação de vivenciar a realidade através das suas descrições. Exceto pelo Proust que me fora apresentado neste filme. As pessoas, depois de descobrirem algo novo como, por exemplo, a beleza de um prédio antigo revelada por uma reforma ou as árvores floridas de uma avenida em estação propícia, não voltam o olhar mais do que uma vez; elas desconhecem o sentido da contemplação, do maravilhamento com as coisas belas do quotidiano. A inércia do senso comum deprime, porque turva e lesa para sempre os olhos da mente. O filme foi tomado em preto e branco para mostrar a realidade de um quotidiano sem imaginação, feio e amargurado. Necésio Pereira é um bom ator, mas, depois de assistir ao filme pela terceira vez, percebi que, em alguns momentos, lhe faltou naturalidade. Talvez isso também tenha sido parte da intenção do filme, revelar, em contraste com o quotidiano desalentado dos transeuntes desprovidos de imaginação, a presença do contraponto, na pessoa do Necésio. Clique no link abaixo sob o título homônimo deste post e assista ao filme.
quarta-feira, 15 de julho de 2020
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