terça-feira, 9 de março de 2021

O que é um Santo?




    Depois de muito esperar na fila de leituras, eis que é chegado o momento de lê-la. A biografia Padre Pio, A História Definitiva, escrita pelo C. Bernard Ruffin, da Minha Biblioteca Católica, chegou há meses. Lembro bem da surpresa daquele dia: o carteiro trouxera duas caixas com os emblemas da MBC. A pulga atrás da orelha não só dançou, mas pulou carnaval, na mais soberba das folias. Como pode? Eu paguei por um kit e, no entanto, chegam-me dois! Corri para o computador e enviei um e-mail relatando o possível engano da equipe responsável pelos envios mensais dos livros aos assinantes. "Vitor, considere o livro excedente como um brinde do nosso Clube de Leitura!", fora a resposta da prestimosa equipe. Pois bem, sou um felizardo, pois tenho dois exemplares da mais completa biografia do maior Santo que viveu no século XX! Talvez eu dê o outro de presente para alguém, estou prospectando dentre os conhecidos, de longe e de perto, virtuais ou pessoais, alguém digno de receber esse tesouro. Quem será? Há uma amiga virtual residente na longínqua Cascavel do Paraná, talvez o carteiro despache alegria em sua casa também. 

    Decidi escrever algumas poucas palavras sobre o meu entendimento da realidade da Santidade depois que, durante a leitura, pude observar, quase como uma testemunha, a coleção deífica das ações cotidianas do Pe. Pio. Um Santo, mes amis, é alguém que esteve tão próximo de Jesus Christo a ponto de se transformar em um verdadeiro e cativante exemplo de como segui-Lo, imita-Lo e obedecê-Lo. Esse tipo humano especial, pelo testemunho de sua vida de consagração e entrega, parece mesmo dotado de um amor extraordinário por Jesus; um amor que não poderia tomar forma sem uma intervenção divina. Francesco Forgione, o Pe. Pio de Pietrelcina, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, foi um, mutatis mutandis, exemplo perfeito de Santidade. Na história das personalidades humanas, observamos, maravilhados, que há aqueles que nascem com o talento extraordinário para as habilidades matemáticas, como Newton ou Feynman; outros, porém, como prodígios musicais admiráveis, como Bach ou Mozart; e ainda outros nascem com o talento incomum para a arte da Literatura, como Machado ou Dostoiévski. Contudo, há um outro tipo de disposição manifesta em alguns indivíduos que os arrebata, literalmente, do ordinário: a Santidade. Pe. Pio fora um desses iluminados pela chama do amor desmedido a Deus que o levou a, heroicamente, aprender a submeter suas paixões à vontade do Criador. E, assim como os talentos mundanos precisam ser lapidados e aprimorados, como um diamante, assim também a Santidade demanda o esforço individual para crescer. 

    Entretanto, diferentemente dos talentos comuns, isto é, daqueles que expandem o horizonte de percepção do indivíduo somente para as coisas mundanas, apontando só timidamente para a existência de uma realidade muito para além do mensurável, a Santidade é um talento que se distribui de forma igualitária. Os outros, não. Um sujeito pode ser bom em matemática, um outro, em música, mas esses talentos limitam-se ao domínio de recortes da realidade. Ademais, limitam-se também às potências intelectivas dos indivíduos. A Santidade, por sua vez, expressa o vocativo universal: a conformidade da alma em Christo; a participação definitiva no Ser. Desse chamado [vocare] ninguém pode escapar -- pelo menos de ouvir. Os Santos, através da coparticipação com a Graça Divina, manifestaram uma firme resolução de dedicar suas vidas nesse mundo àquilo que verdadeiramente importa: ir a Christo e nEle permanecer. Nas suas ações cotidianas, Pe. Pio deixava-se guiar unicamente por esse propósito, tudo o mais em sua vida era contingente. Há aqueles que, conscientes do chamado à Santidade, caem tristes, porque sempre e sempre sucumbem às tentações. Numa carta a um Padre amigo, datada de março de 1918, Pe. Pio diz: "(...) Caminhe alegremente com um coração aberto e sincero na medida do possível. Se não puder manter essa santa alegria, ao menos nunca perca a coragem e a confiança em Deus. Diga frequentemente a Nosso Senhor, junto ao Santo Rei Davi: 'Sou teu, salva-me' (Sl. 118,94), e, como Maria Magdalena, em pé diante dEle: 'Rabi, meu Mestre!' (Jo. 20,16). Então deixe tudo em suas mãos. Com você, dentro de você, ao redor de você, e mesmo através de você, Ele santificará Seu nome, ao qual deve ser dado honra e glória eterna. Nada tema... e não tema nada que possa separá-lo de Deus. Não desfaleça por causa da escuridão em que seu espírito se encontra na maior parte do tempo. Lembre-se que Jesus está sempre muito próximo, não importa qual seja o estado da sua alma". 

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